FAVELA, FOME, EDUCAÇÃO, UM GRITO QUE RESSOA...



“... Quando um político diz nos seus discursos que está ao lado do povo, que visa incluir-se na política para melhorar as nossas condições de vida pedindo o nosso voto prometendo congelar os preços, já está ciente que abordando este grave problema ele vence nas urnas. Depois divorcia-se do povo. Olha o povo com olhos semi-cerrados, com um orgulho que fere a nossa sensibilidade.” Carolina Maria de Jesus
“Eu classifico São Paulo assim: O Palácio é a sala de visita. A Prefeitura é a sala de jantar e a cidade é o jardim. E a favela é o quintal onde jogam os lixos.” Carolina Maria de Jesus
“... As oito e meia da noite eu já estava na favela respirando o odor dos excrementos que mescla com o barro podre. Quando entro na cidade tenho a impressão que estou na sala de visita com seus lustres de cristais, seus tapetes de viludos, almofadas de sitim. E quando estou na favela tenho a impressão que sou um objeto fora de uso, digno de estar num quaro de despejo.” Carolina Maria de Jesus
“Como é horrível ver um filho comer e perguntar: “tem mais?”Esta palavra “tem mais” fica oscilando dentro do cérebro de uma mãe que olha as panela e não tem mais.” Carolina Maria de Jesus



Não se deve perder “o fio da meada”. Imagino que essa expressão tenha fundamento na mitologia grega, mais especificamente no “fio de Ariadne” que salva seu amado e herói Teseu na luta contra o minotauro e o labirinto. As histórias e os mitos nos fazem melhores, nos fortalecem. Deve haver uma relação direta entre povos desenvolvidos e mais saudáveis com boa mitologia e histórias bem contadas e assentadas nesse povo.
É dito e repetido, aqui no Brasil, que nós somos “um país sem memória”. Significa que não temos essa fortaleza que uma boa estrutura mítica e histórica poderia nos dar? Possivelmente. Reli a poucos dias um livro muito muito velho, uma coleção antiga, “Uma Realização Columbus – Para Você, meu filho – Grandes Vocações – Vol. I – Libertadores”. E nesse volume I constavam cinco “libertadores”, dentre os quais TIRADENTES. O escritor dessa biografia é VIRIATO CORRÊA. Essa obra e o jeito maravilhoso de Viriato Corrêa contá-la é emocionante, escrita para jovens e adolescentes, certamente com a finalidade de despertar VALORES.
Se eu fosse responsável pela Educação neste país, esta biografia e obra de Viriato Corrêa seria um dos textos OBRIGATÓRIOS em todas as escolas brasileiras. Outros textos OBRIGATÓRIOS haveria, sem dúvida, e dentre os quais, QUARTO DE DESPEJO, de CAROLINA MARIA DE JESUS. Vocês já leram pinceladas dessa obra no início destes meus escritos.
O que dizer? Na edição que possuo tem uma chamada, na bela e pobre capa: “O grito da favela que tocou a consciência do mundo inteiro!”. Não tocou! Se tivesse repercutido (essa obra é do final dos anos 50 e início dos 60), as favelas do Brasil não teriam se transformado nos cenários da atual e verdadeira calamidade que é a “Guerra do Tráfico”, com o povo perdido e impotente, qual marisco entre o mar e o rochedo – os traficantes armados de um lado e a polícia (também armada) mais o poder público (incompetente e corrupto) incapazes do outro. Sem falar na fome e na miséria que permanecem.
Falei em dois heróis. Tiradentes, que deu a vida pela pátria e Carolina Maria de Jesus, mulher e papeleira de São Paulo, catadora de lixo, que deu o sangue pelos filhos e pela contação de história e formação dos mitos do seu país. É preciso que as crianças, nas escolas brasileiras saibam mais sobre essas pessoas, aprendam o valor dos heróis. São muitos os heróis. Alguns poucos ganham fama e notoriedade e a maioria exercem seus ofícios de heróis anonimamente. Não tem importância. O que interessa é que as crianças saibam desde o início que o espírito do herói, daqueles que se sacrificam efetivamente em prol dos outros é fundamental para se construir uma nação de verdade.
Preciso é que se ensine nas escolas o valor dos líderes e heróis do mundo todo, que fizeram e fazem a diferença: Ghandi, Garibaldi, Tiradentes, Lincoln, Marco Polo, Simon Bolívar, Leon Tolstoi, Bach, Newton, Moisés, Jesus, Sócrates, Lao Tzu, Madre Tereza, Einstein, Marie Curie, Lênin, Miamoto Musashi, Colombo, Pasteur, Antônio Conselheiro, Bento Gonçalves, Zumbi dos Palmares, Sepé Tiarajú, Francisco de Assis, João Cândido, Érico Veríssimo, Cora Coralina, etc. Heróis dO mundo de todas as áreas da vida, na ciência, na religião, nas guerras, na literatura, nas artes, com seus erros e acertos, mas, sobretudo demonstrando aquele espírito tenaz, de pertinácia, de “loucura santa”, que os colocaram acima dos seus próprios interesses, lutando por valores maiores e ideais sublimes.
Carolina Maria de Jesus foi uma heroína brasileira, catadora de papel da estatura de uma fortaleza, aliás, como é a de muitíssimas mulheres do Brasil, que em geral levam às costas a criação e a educação dos filhos, enquanto seus homens ficam bebendo cachaça no botequim da esquina – isto me lembra de outra obra genuinamente brasileira que deveria ser OBRIGATÓRIA nas escolas; O POVO BRASILEIRO – do nosso imortal Darcy Ribeiro. Esta “obrigatoriedade” é a forma mais simples e direta de se ensinar ou “trabalhar” Valores, sem os quais não se faz um verdadeiro país.

2 comentários:

  1. Meu amado primo José Vitor
    Sem correções. Objetivo. Pena que poucos lêem, ninguém comenta. Que lista linda de heróis! Nosso NPHC agora sob a presidência de um professor, Gilberto Bueno da Silva, está com os olhos voltados para os jovens. Estamos trabalhando dentro dos colégios, pois neles ainda há alguma esperança.
    Beijo teu coração.
    Luiz Fernando

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  2. É uma pena que não leiam! É uma pena não "pregares" nas escolas. Na tua relação de herois gostaria de incluir Angelina Jolie, que estou enviando um e-mail recebido de minha amiga Luciana Saibro Ferreira, lá da Holanda.
    Bem Primo, resta continuarmos...
    Um abraço - Luiz Fernando

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