Quando a vida era um tango,
Não dava para concentrar o amor em uma pessoa apenas – não era orgânico.
Quando a vida era um tango, talvez valesse apena ser governador do seu estado –
Não sabíamos tudo sobre a corrupção endêmica.
Quando a vida era um tango, ter medo
Ou ter muita coragem era natural como espirrar – não fazíamos dramas.
Quando a vida era um tango,
O herói que incorporávamos dependia do filme em cartaz.
Quando a vida era um tango, cigarros, charutos, licores, faziam parte do cenário
E não significavam perigo – confiávamos nos americanos e na mídia.
Quando a vida era um tango,
Éramos esquizofrênicos de cara e as drogas (lícitas ou ilícitas) amenizavam a doença social.
Quando a vida era um tango,
O corpo estalando encarava noites, carnavais, bebedeiras – mas levantávamos para trabalhar, com ou sem ressacas homéricas.
Quando a vida era um tango,
A vida era vida,
A morte que se lixasse,
Amigos? Tudo!
Inimigos? Que inimigos?
Depois, quando os tangos terminaram, a vida disparou num samba doido, se fez criativa em blues do Deus Clapton, suicidou-se muitas vezes com Elvis, Janis Joplin, Ellis Regina; e foi misteriosa em Gonzaguinha, tanto quando com o presidente Juscelino Kubitschek.
Agora, descobrimos que é eterna,
Os tangos, principalmente os tangos,
Voltaram,
Com novo sabor.
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